sexta-feira, 17 de junho de 2022

Os Meninos da Rua Paulo (A Pál utcai fiúk), de Ferenc Molnár - RESENHA #185

Sou um entusiasta dos clássicos infantis e já me deleitei com grandes autores como Frances Hodgson Burnett, José María Sánchez-Silva e José Mauro de Vasconcelos. Por esse motivo, foi inevitável criar grandes expectativas em torno de Os Meninos da Rua Paulo (1907), um clássico aclamadíssimo. Embora reconheça que o livro do escritor húngaro seja muito bom e bastante recomendável para crianças, a leitura não me empolgou da maneira esperada.

Acredito que isso tenha se dado em grande parte pelo meu deslumbramento com Majupira no início deste ano. Embora Boka e Nemecsek sejam adoráveis, o nosso Pedro Luiz consegue ser ainda mais interessante enquanto líder de um grupo de garotos. A rigorosa disciplina militar dos meninos húngaros também me pareceu menos crível que os lances aventurescos da garotada do Pequiri. Mas, em resumo, o romance de João Batista de Melo e Souza, ainda fresco em minha memória, acabou ofuscando o trabalho de Ferenc Molnár.

No enredo de Os Meninos da Rua Paulo, um grupo de garotos enfrenta a cobiça de outro grupo pelo seu espaço de lazer: um terreno baldio ou “grund”, como se denomina em Budapeste. Para piorar a situação, um dos meninos da Rua Paulo fez aliança secreta com o grupo dos camisas-vermelhas, mas os únicos que sabem disso são Boka, o líder dos garotos, e Nemecsek, que possui a mais baixa posição hierárquica no grupo.

É curioso o modo disciplinado como as crianças desse livro encaram suas sociedades secretas. Há toda uma hierarquia militar, de general a soldado raso, onde cada membro possui privilégios e restrições que precisam ser seguidos à risca. Os grupos ainda contam com livros de anotações e registros das assembleias realizadas, como também das ocorrências gerais envolvendo os membros constituintes.

Enquanto Boka se esforça por encontrar a melhor maneira de desmascarar o membro traidor, além de compor o plano de guerra contra os camisas-vermelhas, o pequeno Nemecsek aspira por realizar algum feito grandioso que proporcione sua promoção dentro do grupo. Mas os inimigos se revelam poderosos e mais fortes, o que torna tudo mais difícil para os meninos da Rua Paulo, sobretudo para Nemecsek.

A parte inicial e a parte final do romance de Ferenc Molnár causaram-me melhor impressão que o desenvolvimento do livro, que me soou menos interessante, concentrado sempre nos assuntos infantis. Eu seguramente teria me envolvido mais com a trama se a tivesse lido na adolescência, embora não tenha deixado de apreciar as qualidades da escrita de Molnár.

Já não me surpreende o aparecimento do tema da morte em livros infantis. Todos os grandes clássicos do gênero – O Pequeno Príncipe, Marcelino Pão e Vinho, O Menino do Dedo Verde, O Meu Pé de Laranja Lima, A Teia de Charlotte, dentre outros – carregam esse tema quase como que uma obrigatoriedade.

Há aspectos interessantíssimos para se refletir após a leitura de Os Meninos da Rua Paulo, especialmente se fizermos um paralelo entre as crianças daquela época e as de hoje. No capítulo final, o comportamento insensível de um figurão da alta sociedade encheu-me de indignação. E é no mínimo frustrante a novidade que pega todos de surpresa nas últimas páginas. Todos esses aspectos, além de outros não citados, tornam relevante a leitura desse clássico.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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