Sou um
entusiasta dos clássicos infantis e já me deleitei com grandes autores como
Frances Hodgson Burnett, José María Sánchez-Silva e José Mauro de Vasconcelos.
Por esse motivo, foi inevitável criar grandes expectativas em torno de Os Meninos da Rua Paulo (1907), um
clássico aclamadíssimo. Embora reconheça que o livro do escritor húngaro seja
muito bom e bastante recomendável para crianças, a leitura não me empolgou da
maneira esperada.
Acredito que
isso tenha se dado em grande parte pelo meu deslumbramento com Majupira no início deste ano. Embora
Boka e Nemecsek sejam adoráveis, o nosso Pedro Luiz consegue ser ainda mais
interessante enquanto líder de um grupo de garotos. A rigorosa disciplina
militar dos meninos húngaros também me pareceu menos crível que os lances
aventurescos da garotada do Pequiri. Mas, em resumo, o romance de João Batista
de Melo e Souza, ainda fresco em minha memória, acabou ofuscando o trabalho de
Ferenc Molnár.
No enredo de
Os Meninos da Rua Paulo, um grupo de
garotos enfrenta a cobiça de outro grupo pelo seu espaço de lazer: um terreno
baldio ou “grund”, como se denomina em Budapeste. Para piorar a situação, um
dos meninos da Rua Paulo fez aliança secreta com o grupo dos camisas-vermelhas,
mas os únicos que sabem disso são Boka, o líder dos garotos, e Nemecsek, que
possui a mais baixa posição hierárquica no grupo.
É curioso o
modo disciplinado como as crianças desse livro encaram suas sociedades
secretas. Há toda uma hierarquia militar, de general a soldado raso, onde cada
membro possui privilégios e restrições que precisam ser seguidos à risca. Os
grupos ainda contam com livros de anotações e registros das assembleias
realizadas, como também das ocorrências gerais envolvendo os membros
constituintes.
Enquanto
Boka se esforça por encontrar a melhor maneira de desmascarar o membro traidor,
além de compor o plano de guerra contra os camisas-vermelhas, o pequeno
Nemecsek aspira por realizar algum feito grandioso que proporcione sua promoção
dentro do grupo. Mas os inimigos se revelam poderosos e mais fortes, o que
torna tudo mais difícil para os meninos da Rua Paulo, sobretudo para Nemecsek.
A parte
inicial e a parte final do romance de Ferenc Molnár causaram-me melhor
impressão que o desenvolvimento do livro, que me soou menos interessante,
concentrado sempre nos assuntos infantis. Eu seguramente teria me envolvido
mais com a trama se a tivesse lido na adolescência, embora não tenha deixado de
apreciar as qualidades da escrita de Molnár.
Já não me
surpreende o aparecimento do tema da morte em livros infantis. Todos os grandes
clássicos do gênero – O Pequeno Príncipe,
Marcelino Pão e Vinho, O Menino do Dedo Verde, O Meu Pé de Laranja Lima, A Teia de Charlotte, dentre outros –
carregam esse tema quase como que uma obrigatoriedade.
Há aspectos
interessantíssimos para se refletir após a leitura de Os Meninos da Rua Paulo, especialmente se fizermos um paralelo
entre as crianças daquela época e as de hoje. No capítulo final, o
comportamento insensível de um figurão da alta sociedade encheu-me de
indignação. E é no mínimo frustrante a novidade que pega todos de surpresa nas
últimas páginas. Todos esses aspectos, além de outros não citados, tornam
relevante a leitura desse clássico.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
***
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