Pouco a
pouco vou conhecendo mais da obra do grande Camilo Castelo Branco, o escritor
mais prolífero do Romantismo em Portugal. Desta vez, li outra de suas novelas
sentimentais, Agulha em Palheiro
(1863) que, embora não tenha me agradado tanto quanto Os Brilhantes do Brasileiro, soube ser simpática a seu modo.
Pelo que
tenho lido de Camilo, acredito que seu maior talento não era fabular tramas
envolventes e impressionantes. Seus romances valem mais pela escrita
notadamente marcada pelo estilo tão particular do autor. Há certa graça no
narrador camiliano que infelizmente não envelheceu bem, e que só parecerá
atrativa aos apreciadores de antiguidades, que nem eu.
Recomendo a
quem pretende se aventurar pela prosa do autor de Amor de Perdição: não espere encontrar tramas e personagens
cativantes. O protagonismo está sempre no próprio narrador, que vem a ser a
figura mais empolgante das histórias, podendo refletir, emocionar e divertir o
leitor, não necessariamente nessa ordem.
Agulha em Palheiro conta a história de Fernando Gomes,
moço pobre, filho de um sapateiro e uma colchoeira. O pai de Fernando, Francisco
Lourenço, mesmo sendo uma pessoa simples, possuía inclinações literárias e
ambicionava um futuro brilhante para o filho. Por esse motivo, Fernando foi
incentivado a estudar e concluiu Direito em Coimbra.
Mesmo sendo
inteligente e tendo se formado com louvor, Fernando sofre o preconceito de
classe, por ser filho de sapateiro. Além das zombarias dos outros acadêmicos, o
jovem bacharel enfrenta dificuldades para estabilizar-se profissionalmente.
Desiludido com os projetos sonhados por seu pai, Fernando pede permissão para
viajar por um tempo, o que é logo concedido.
Passeando
por diversos pontos da Europa, Fernando chega a Florença, onde é apresentado a
Bártolo de Briteiros e suas duas filhas: Eugênia e Paulina. Trata-se de uma
família portuguesa expatriada, cujo pai, após enviuvar, deseja passar o resto
da vida na companhia das filhas, evitando ao máximo que estas contraiam
matrimônio.
Fernando
apaixona-se perdidamente por Paulina, a filha mais moça de Briteiros, sendo
prontamente correspondido. Mas, além das dificuldades impostas pelo próprio pai
da jovem, o filho do sapateiro receia falar de suas origens para a amada. Não
bastassem todos esses obstáculos, a chegada de um rival agrava a situação dos
namorados, uma vez que a proposta de casamento do Marquês de Tavira, a quem
Bártolo reconhece como primo, agrada ao velho português, pois o parente promete
viver com o sogro.
Nesse ponto
da narrativa, um novo personagem se destaca. Hipólito de Almeida, que estudara
com Fernando, sendo também de origem humilde, prontifica-se a auxiliar o amigo
em seu dilema amoroso. Hipólito e Paulina acreditam que uma fuga seria a melhor
saída para o problema, mas os pundonores do filho do sapateiro acabam obstando
a execução de tal projeto.
É quando
Camilo toca nessas questões de honra que a narrativa dialoga com seu título.
Fernando, do alto de sua probidade, é como uma agulha no palheiro, um tipo raro
que sobrepõe sua honradez acima dos próprios sentimentos. O ponto alto do
romance é justamente quando nos deparamos com o dilema entre razão e emoção.
Agulha em Palheiro, considerando-se o panorama romântico
da literatura de língua portuguesa, não é obra que se destaca. Dentro do que se
propõe, é um livro aceitável, mas que nada ultrapassa ao limite do que já se
espera de uma novela sentimental.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
***
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