Na carreira de Alencar há um livro que, penso,
destoa bastante do conjunto fabuloso de sua produção romanesca. Trata-se de Diva (1864), que integra a trilogia
“Perfil de mulher”. Na história, temos Emília, ou simplesmente Mila, garota
caprichosa que faz o inferno na vida de Augusto, um modesto médico.
Fora impossível não associar este romance de
Alencar à minha última leitura. Em Nina
(1869), de Joaquim Manuel de Macedo, Nicolina, ou simplesmente Nina, é uma
garota caprichosa que faz o inferno na vida de Firmiano, um modesto
provinciano.
Criado por sua irmã Escolástica após a morte dos
pais, Firmiano, tendo concluído seus estudos, decide tentar a vida no Rio de
Janeiro. Munido de boas cartas de recomendação, ele vislumbra um emprego
público modesto, mas satisfatório. Sua dedicada irmã, contudo, ambiciona para
Firmiano uma carreira literária e incumbe-lhe da composição de um romance.
O amigo Félix fá-lo crer que o caminho mais
seguro para inspirar-se é a paixão de uma mulher. Numa visita ao Passeio
Público, Firmiano acaba encontrando sua musa inspiradora: Nicolina. Este
primeiro encontro é marcado por um episódio bem humorado em que o jovem
provinciano é feito de bobo pela terrível moça.
Nina, como é chamada desde criança, é a filha
única de André de Sousa e Gervásia, que a conceberam em idade já avançada. A
criança fora criada cercada de mimos e atenções, daí seu temperamento
voluntarioso e índole caprichosa. Mas, apesar destes senões, Nina é de natureza
boa e amorosa, sendo capaz de sacrificar-se para reparar alguma falta
praticada.
Conhecendo que Firmiano era filho de um antigo
amigo de seu pai, ela desculpa-se sinceramente, convidando-o a frequentar sua
casa. O moço acaba cedendo aos encantos da tentadora menina, mas sabendo-se
pouco belo e sem fortuna, julga-se incapaz de ganhar o coração de Nina, estando
esta noiva do doutor Vidal, um cavalheiro formoso e rico.
Firmiano passa a ignorar as atenções de Nina, na
tentativa de curar-se de sua nascente paixão, mas a indiferença dele excita o
orgulho da caprichosa garota que, para vingar-se, decide antecipar seu
casamento com Vidal, que nega-se ao desejo da noiva em respeito ao luto por seu
finado pai. Ferida novamente em seu orgulho, Nina descompromete-se com Vidal e,
para afrontá-lo com mais denodo, sugere preferir a Firmiano, um candidato em
tudo inferior.
O romance segue nesse joguinho de namorados que
muito me lembrou outro romance de Macedo: Rosa,
que acaba saindo-se melhor por sua jocosidade. Em certo ponto também nos lembra
Vicentina, quando, numa digressão,
Macedo põe em julgamento a má-criação recebida por Nicolina, cujos pais eram
excessivamente indulgentes.
Obra menor (tanto em qualidade como em
extensão), o romance é econômico em personagens. Além dos já citados, apenas
Erícia também participa ativamente da trama. É a melhor amiga de Nina, mas que,
em razão dos caprichos desta, acompanhará Firmiano em sua desdita.
Se Diva
é o romance de Alencar que menos simpatizo, Nina
é, por seu turno, dentre os romances que já li do doutor Macedinho, o menos
interessante. A escrita elegante e o estilo agradável de sempre do autor,
contudo, não inutilizam a experiência de leitura. O desfecho da trama pode até
parecer injusto, mas fica justificado quando percebemos que Macedo é um pai tão
indulgente quanto André de Sousa.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
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