Eis que retorno a uma antiga paixão, Aluísio
Azevedo, depois de dois anos sem o ler. A razão deste intervalo em nossa relação
foi a leitura do perturbador O Homem, que me deixou ressacado da pena do
mestre naturalista por um tempo. Desejando experimentar um quitute inteiramente
diverso dos que Aluísio me ofertara até aqui, apelei para sua obra de estreia.
Os apreciadores do autor d’O Cortiço bem sabem que, a despeito de seu interesse pela escola naturalista, Aluísio publicou livros românticos, a fim de ganhar uns trocados. Uma Lágrima de Mulher (1880) pertence a este grupo de livros escritos sob encomenda. Desse modo, temos dois Aluísios: o grande escritor, que estrearia no ano seguinte com O Mulato; e o novelista sentimental, hoje praticamente desconhecido.
Para atender ao gosto do público pelo exótico, o novelista ambienta sua trama numa formosa ilha de Lipari, na Itália. Rosalina, a protagonista, é aquela figura romântica que todos já conhecemos. Órfã de mãe, vive na companhia do ambicioso Maffei, seu pai, e de sua ama, a religiosa Ângela.
Inconformado com sua posição de humilde pescador e ambicionando ascender socialmente, Maffei parte para Nápoles, deixando as duas mulheres sozinhas. Por esse tempo, aproxima-se delas o jovem Miguel, um pobre músico por quem Rosalina se apaixona.
Os dois jovens vivem um idílio sentimental até o regresso de Maffei que, ao saber do namoro da filha, opõe-se terminantemente. A partida para Nápoles se apresenta como a solução mais eficaz. Contudo, outros acontecimentos constituirão ameaça maior à felicidade do casal principal.
Embora este Aluísio romântico seja de fato outro escritor, é possível reconhecer algumas semelhanças com o autor de Casa de Pensão. A escrita clara e correta, embora aqui com tintas mais exageradas, já é perceptível neste primeiro romance. Por outro lado, também reconheci a influência de nossos primeiros romancistas na construção de personagens misteriosos, como Sombra da Noite; e na participação de bichinhos simpáticos, como o cãozinho Castor.
O tema da corrupção da mulher, embora indicasse tendências que seriam melhor trabalhadas nas obras maduras de Aluísio, já apareceria no primeiro romance brasileiro, O Filho do Pescador, de Teixeira e Sousa. Mas em ambos os casos, por se tratarem de obras românticas, a intenção é puramente moralista.
A parte final do livro soou-me um tanto apressada, comprometendo o desenvolvimento da trama que, a meu ver, fluiu melhor nos dois primeiros terços. O desfecho exagerado e teatral de Uma Lágrima de Mulher é inegavelmente piegas e forçado, para não dizer inverossímil. Poderia justificar o caso com aquele velho discurso do autor estreante, mas a verdade é que, aqui, temos mesmo outro Aluísio. E certamente não vou ignorá-lo rs.
Avaliação: ★★★
Daniel
Coutinho
***
Olá! Descobri seu blog ao procurar resenhas sobre o livro Luz e Sombra,de Dupré, e adorei!
ResponderExcluirEstou focada em ler Literatura Brasileira e pretendo fazer como você: quero ler todos os livros de Dupré. Iniciei com Éramos Seis, e logo depois, Gina.
Li sua resenha de Gina e concordo plenamente contigo!Tanto Éramos Seis quanto ele possuem diálogos maçantes e desnecessários, descrições extensas e cansativas.Queria ler Os Rodriguez, pois conforme sua resenha, parece mais dinâmico, mas não o consegui de jeito nenhum! Você tem ele digital? Se vc tiver, e sentir no coração o desejo de ajudar uma leitora triste (kkkk), por favor, se fosse possível, gostaria muito de recebê-lo! Meu email é flamorais2385@gmail.com
Grande abraço! Continue seu blog, porque é muito interessante!
Flávia.
Olá Daniel! Após ler O cortiço, Casa De Pensão e O mulato, a leitura de Uma lágrima de Mulher nos mostra um outro Aluísio. Isso muito me intrigou, até ler essa resenha e compreender. Curto muito suas conclusões e comentários sensatos.
ResponderExcluirUm Aluísio bem diferente, né? Eu realmente prefiro o outro hehe. Em se tratando de autores românticos nacionais, ninguém supera meu querido José de Alencar. Obrigado pelo elogio :)
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