O seriado Chaves era um dos meus vícios de
infância. Não obstante as diversas mudanças de horário, eu sempre dava um jeitinho
para acompanhar a turminha da vila. Tanto vi todos aqueles episódios, que até
hoje lembro com carinho a maioria das piadas e situações em torno do Chavinho e
seus amigos.
Era pois muito natural que mais cedo ou mais tarde eu me interessasse por conhecer os livros publicados pelo criador/intérprete do menino do barril, Roberto Gómez Bolaños, o lendário Chespirito. Ano passado tive o prazer de conhecer sua poesia através da coletânea …Y También Poemas (2003). E neste ano finalmente li Diário do Chaves (1995), seu primeiro livro, único publicado no Brasil.
Diário do Chaves é uma obra bastante interessante para os fãs do seriado, pois, além de mostrar um pouco da vida do protagonista antes de chegar à vila, reúne várias ilustrações do próprio Bolaños. A edição brasileira, já esgotada há bastante tempo, é de formato simples e sem grandes atrativos.
O livro abre com um prefácio onde Bolaños, já no plano da ficção, relata seu encontro com Chaves e de como teve acesso ao seu diário. O autor também previne o leitor sobre as interferências realizadas no “texto original”, tendo em vista os compreensíveis problemas de linguagem do “redator”.
Sob o ponto de vista do menino órfão, vamos acompanhando sua trajetória a partir de suas lembranças mais remotas, quando foi abandonado pela mãe numa creche. Chaves conta que, depois de um tempo, foi mandado para um orfanato onde sofria maus tratos e que, por conta disso, acabou tendo que fugir de lá.
As passagens sobre sua vida na rua são as mais interessantes do livro e nelas há um realismo mais explícito, pois o garoto acaba travando relações com outras pessoas marginalizadas (adultos e crianças), exposto ao trabalho infantil, à prostituição e ao consumo de drogas.
Chaves também conta de como chegou à vila que todos conhecemos. Ele foi acolhido por uma senhora idosa, que morava na casa de Nº 8, e que o achava muito parecido com um neto dela. Após a morte dessa senhora, o garoto passa a viver pela caridade dos outros moradores da vila.
É a partir daí que aparecem todos os personagens adorados pelo público do seriado: Seu Madruga, Chiquinha, dona Florinda, Quico, dona Clotilde, professor Girafales, seu Barriga, dentre outros. Contudo, os episódios humorísticos contados no diário são os mesmo que já vimos mil vezes na televisão, o que pode deixar o texto meio arrastado por soar repetitivo.
Ao final, temos um “Histórico” assinado por Florinda Meza, que interpretou dona Florinda e que é a viúva de Bolaños. Esse texto de encerramento nos dá uma ideia do sucesso que foi o seriado e do alcance que teve em todo o mundo, enriquecido de várias anedotas em torno das apresentações ao vivo do elenco original.
Se você é fã de Chaves, certamente não deve deixar passar esse livro. Para mim, que há muito não revejo os episódios da série, foi um prazer revisitar muitas das histórias que me divertiram durante tantos anos. Contudo, enquanto obra isolada, o Diário do Chaves não é mais que um livro infantil, desses que se podem descartar sem maiores prejuízos.
Avaliação: ★★★
Daniel
Coutinho
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