Depois de
ter esgotado a obra romanesca de Rachel de Queiroz, decidi me aventurar pelo
teatro da autora de O Quinze. Para os
palcos nossa Rachelzinha escreveu Lampião
(1953), objeto desta resenha, e A Beata Maria do Egito (1958), da qual falaremos na próxima postagem.
Dentre
minhas particularidades de leitor, no que se refere a gosto pessoal, está o
fato de que não simpatizo com histórias cujo tema central é o banditismo.
Certamente por isso não apreciei tanto quanto desejava o Memorial de Maria Moura.
Lampião,
conquanto seja uma figura representativa que conquistou o imaginário popular,
não me representa enquanto nordestino. Não tenho nenhuma admiração por ele e
não posso mesmo entender o fascínio que algumas pessoas sentem perante sua
imagem asquerosa. Foi um bandido idiota que morreu como um porco. Nada mais.
Só mesmo a
criadora de Dôra, Doralina para me
fazer acompanhar alguns dos episódios mais lendários do famigerado cangaceiro
pernambucano. A peça Lampião é divida
em cinco quadros cheios de ação e violência. Por ela temos uma imagem bem
próxima do que fora realmente o Rei do Cangaço. Rachel explora ainda com
propriedade a também lendária figura de Maria Bonita.
A peça se
inicia justamente com o episódio no qual Maria Déa abandona o marido e os
filhos para seguir Lampião, tornando-se a partir daí Maria Bonita, a mulher do
terrível bandido. Nos quadros seguintes acompanhamos o cangaceiro e seu bando em
suas peregrinações pelo sertão.
Lampião, na
tentativa de livrar-se da perseguição do governo, tenta um “acordo de paz”
enviando uma carta para o interventor de Recife através de dois viajantes que
são abordados por seus homens. Além da expectativa pela resposta, acompanhamos
os conflitos que se desdobram entre os cangaceiros, os principais deles
envolvendo Antônio Ferreira e Ezequiel, irmãos de Lampião.
Lampião é uma peça
movimentada e bastante violenta. Embora o tema não me empolgasse, não pude
deixar de apreciar a maestria com que Rachel organiza cada um dos quadros, cujo
principal defeito, a meu ver, é a desproporção. Mesmo assim temos uma sequência
muito pertinente e coerente para uma apresentação teatral.
No que diz
respeito ao texto da peça, pareceu-me desnecessário o acúmulo de detalhes e
informações. Rachel especifica até as aves que devem cantar em determinadas
cenas, além de enumerar minuciosamente objetos e acessórios de palco,
vestuário, etc. Não acredito que os cenógrafos e figurinistas sigam à risca
tantos pormenores numa possível montagem. Defendo a ideia de que o dramaturgo
deve estar mais focado na construção das falas e na sequência cênica,
minimizando ao máximo os aspectos suplementares, concedendo assim mais
liberdade artística às companhias teatrais.
Rachel de
Queiroz revela-se com Lampião uma
excelente dramaturga. Eu certamente teria apreciado mais seus dotes teatrais a
partir de um tema mais ameno. Vamos ver se encontro algo do tipo na segunda e
última peça que ela escreveu. Mas isto será matéria para outra publicação rs.
Encontro vocês lá!
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
***
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