Não pude
esperar muito tempo para ler a continuação do Maurício, tão curioso que eu estava para saber mais dos
desdobramentos da trama de Bernardo Guimarães. O Bandido do Rio das Mortes (1905) infelizmente não chegou a ser
concluído pelo autor. O romance foi finalizado por sua viúva, dona Tereza
Guimarães, que, diga-se de passagem, não era escritora. Mas tratemos disso
depois.
Os primeiros
capítulos d’O Bandido do Rio das Mortes
transportam facilmente os apreciadores de Maurício
para aquele delicioso universo mineiro que tão bem conhecemos. Há tanta viveza
e colorido nas descrições como na feitura dos episódios, que quase podemos
sentir a empolgação do próprio romancista ao trazer seus personagens de volta.
O livro
segue, portanto, num ritmo maravilhoso, à altura dos melhores capítulos do
volume anterior, fascinando com aquela linguagem rancheira tão marcante do
autor d’A Escrava Isaura. É lamentável
que Bernardo Guimarães não tenha concluído O
Bandido do Rio das Mortes, obra cujo poder seria equiparável ou mesmo superior
ao romance de 1877.
Mesmo diante
de um texto consideravelmente menor em número de páginas, são muitos os
episódios dignos de nota neste romance póstumo. A passagem em que Maurício
proporciona o reencontro entre Antônio e seu velho pai, por si só, já justifica
a leitura desse livro que tanto prometia, mas que teve um destino tão
deplorável.
Considerando
a parte boa do caso, o que temos são os vinte capítulos mal-acabados e não
revisados, saídos todos da pena do próprio Bernardo Guimarães. É um material
que, mesmo incompleto, pode ser apreciado com interesse e empolgação,
principalmente pelos admiradores do autor d’O
Seminarista.
Quanto aos
dois últimos capítulos que integram a edição, escritos por dona Tereza
Guimarães, são simplesmente ridículos assim associados a uma obra literária.
Não consta que a viúva do romancista tivesse qualquer inclinação para as
Letras. Ela certamente assumiu a tarefa de terminar a obra de seu marido mais pelo
desejo de homenageá-lo que pelo talento literário (que evidentemente não tinha).
Esses dois
capítulos finais fazem uma espécie de resumo do que, acredita-se, Bernardo
Guimarães teria esboçado para a segunda metade do seu último romance. As
situações são dispostas, no entanto, tão deliberadamente, num tom que em nada
lembra a prosa lida nos capítulos anteriores, que mais acertado teria sido
separar em apêndice esse texto que pretende ordenar os fragmentos esboçados
pelo autor.
Apesar de
todas as circunstâncias ruins em torno da publicação de O Bandido do Rio das Mortes, louvo que mesmo assim o tenham
publicado e nos doado um pouco mais desse inesquecível gênio da prosa
sertaneja.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
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