quarta-feira, 5 de julho de 2023

O Bandido do Rio das Mortes, de Bernardo Guimarães - RESENHA #199

Não pude esperar muito tempo para ler a continuação do Maurício, tão curioso que eu estava para saber mais dos desdobramentos da trama de Bernardo Guimarães. O Bandido do Rio das Mortes (1905) infelizmente não chegou a ser concluído pelo autor. O romance foi finalizado por sua viúva, dona Tereza Guimarães, que, diga-se de passagem, não era escritora. Mas tratemos disso depois.

Os primeiros capítulos d’O Bandido do Rio das Mortes transportam facilmente os apreciadores de Maurício para aquele delicioso universo mineiro que tão bem conhecemos. Há tanta viveza e colorido nas descrições como na feitura dos episódios, que quase podemos sentir a empolgação do próprio romancista ao trazer seus personagens de volta.

O livro segue, portanto, num ritmo maravilhoso, à altura dos melhores capítulos do volume anterior, fascinando com aquela linguagem rancheira tão marcante do autor d’A Escrava Isaura. É lamentável que Bernardo Guimarães não tenha concluído O Bandido do Rio das Mortes, obra cujo poder seria equiparável ou mesmo superior ao romance de 1877.

Mesmo diante de um texto consideravelmente menor em número de páginas, são muitos os episódios dignos de nota neste romance póstumo. A passagem em que Maurício proporciona o reencontro entre Antônio e seu velho pai, por si só, já justifica a leitura desse livro que tanto prometia, mas que teve um destino tão deplorável.

Considerando a parte boa do caso, o que temos são os vinte capítulos mal-acabados e não revisados, saídos todos da pena do próprio Bernardo Guimarães. É um material que, mesmo incompleto, pode ser apreciado com interesse e empolgação, principalmente pelos admiradores do autor d’O Seminarista.

Quanto aos dois últimos capítulos que integram a edição, escritos por dona Tereza Guimarães, são simplesmente ridículos assim associados a uma obra literária. Não consta que a viúva do romancista tivesse qualquer inclinação para as Letras. Ela certamente assumiu a tarefa de terminar a obra de seu marido mais pelo desejo de homenageá-lo que pelo talento literário (que evidentemente não tinha).

Esses dois capítulos finais fazem uma espécie de resumo do que, acredita-se, Bernardo Guimarães teria esboçado para a segunda metade do seu último romance. As situações são dispostas, no entanto, tão deliberadamente, num tom que em nada lembra a prosa lida nos capítulos anteriores, que mais acertado teria sido separar em apêndice esse texto que pretende ordenar os fragmentos esboçados pelo autor.

Apesar de todas as circunstâncias ruins em torno da publicação de O Bandido do Rio das Mortes, louvo que mesmo assim o tenham publicado e nos doado um pouco mais desse inesquecível gênio da prosa sertaneja.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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