Alberto Leal
(1908-1948) foi um escritor paulista que, além da literatura, dedicou-se ao
jornalismo, à medicina e à lavoura. Foi casado com a também escritora Isa
Silveira Leal, que acabou ganhando mais notoriedade, sendo mais lembrada
atualmente.
Retrato de Luciano (1949) é um romance póstumo. Trata-se de meu
primeiro contato com o autor. Ainda que não seja classificado como
infantojuvenil, a narrativa lembra bastante aquele estilo dos primeiros autores
publicados na lendária “coleção Vaga-Lume”. É sem dúvida um livro
despretensioso e simples que, embora não revele qualidades extraordinárias, não
deixa de ser um passatempo agradável.
Os
personagens, de modo geral, se não são aprofundados, ao menos têm uma participação
eficiente no enredo, não chegando a ser meros figurantes como ocorre em alguns
livros. O leitor consegue ter uma noção satisfatória sobre cada personalidade
presente na história.
O enredo é
sobre o jovem Luciano, um garoto órfão de pai e excessivamente mimado pela mãe,
que encontra dificuldades em consolidar-se profissionalmente em sua vida
adulta. Maria Angélica, a irmã mais velha, é a cabeça da família, que, a seu
modo, tenta melhorar a educação inadequada recebida por Luciano.
Dona
Afonsina é uma mãe superprotetora que não mede esforços para auxiliar o filho
caçula em seus negócios duvidosos que sempre dão prejuízos à família. A
interferência de Maria Angélica ou mesmo a influência do tio Lupércio não
impedem que Luciano seja ludibriado por pessoas mal-intencionadas e que se
aproveitam de sua inexperiência.
Quando,
porém, Luciano é mandado para o sítio do tio Triburtino, em Mato Grosso, o
leitor, pelos olhos do protagonista, testemunha os problemas de educação
sofridos pelo próprio Luciano sendo reproduzidos em seu primo Escotino. É
quando compreendemos, junto com o personagem, o caminho seguido por ele e que
resultou nas suas falhas de caráter.
Retrato de Luciano segue esse modelo simples em que o herói passa por
uma série de dificuldades até finalmente deparar-se com a experiência salvadora
que lhe mostrará o caminho certo para sua redenção. Seria um livro bobinho, não
fossem as qualidades literárias de Alberto Leal, que as sabe aplicar convenientemente:
no uso do bom humor; na apresentação de personagens secundários que enriquecem
o livro, como Mimi, Roberto e Tinoco; e na condução do enredo que segue em
ritmo fluido e favorável.
Quanto aos
problemas do livro, um leitor menos paciente poderá achá-lo “parado” e carente
de episódios interessantes. A leveza do estilo e o desenho de alguns
personagens beiram a infantilidade em diversos momentos. A esposa de Luciano
(Mariana), por exemplo, desempenha um papel muito teatral, desses muito comuns
em telenovelas.
Se
considerarmos, porém, o romance de Alberto Leal como um livro para jovens (de
sua época), teremos uma obra bastante satisfatória, à qual não faltam boas
qualidades, além de um entretenimento saudável e proveitoso.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
***
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