Pedro
Américo (1843-1905) foi um importante pintor paraibano, conhecido internacionalmente
por obras como Batalha do Avaí e Independência ou Morte. Mas pouca gente
lembra que ele também teve lá suas contribuições literárias, chegando a
publicar quatro romances.
O Foragido (1899),
terceira de suas produções ficcionais, é um romance anacrônico, fugindo,
portanto, às tendências da época em que foi publicado. De um romantismo já superado
por um Alencar e até por românticos menores como Macedo e Bernardo Guimarães, o
livro de Pedro Américo é obra que em nada se destaca, fazendo-nos pensar que o
tempo despendido com ele teria sido melhor aproveitado na composição de novas
telas.
O poeta Angelo
Galvani acaba sendo vítima de um falso amigo, o advogado Ramis della Lega, que,
incitando-o a participar de uma insurreição na Itália, acaba provocando a
condenação daquele. Foragido, Angelo precisa deixar sua esposa Erminia e o
filho Vittorio, indo parar no Brasil, onde assume a identidade de um companheiro
de exílio que vem a falecer.
Divulgada a
notícia da suposta morte de Angelo Galvani, Erminia acaba cedendo às
insistentes solicitações de casamento de Della Lega, que a separa de Vittorio,
mandando o garoto para uma casa no campo, e trazendo, para substituí-lo, o pequeno
Gaspero, seu filho natural.
Angelo tenta
manter correspondência com sua esposa, valendo-se de um pseudônimo, mas suas
cartas são interceptadas por Della Lega, que as atribui a um antigo amante de Erminia.
Mas, depois de juntar algum dinheiro em solo brasileiro, o foragido regressa à
terra natal sob o nome de Antonio Carlos, pretendendo vingar-se de seu inimigo
e recuperar sua família.
Se isolarmos
o enredo dessa maneira, temos uma história razoavelmente boa, embora
fundamentada em clichês bastante gastos. A escrita de Pedro Américo também não
é descartável. O que faltava ao célebre pintor eram técnica e estilo para
conduzir o texto em prosa, atributos que ele tinha de sobra no que se refere às
artes plásticas.
Os
personagens de Pedro Américo são meros títeres encenando uma tragédia
sanguinolenta. O ritmo da narrativa também é bastante irregular, sendo
principalmente prejudicado por várias digressões e episódios irrelevantes para
a trama central. Há ainda personagens descartáveis, como a mulata Esmeraldina e
a curandeira Caricé.
Finalmente,
os exageros deparados ao longo do livro, sobretudo no que tange à ideia do
suicídio, causam péssima impressão a todo e qualquer leitor com uma mínima
bagagem de leitura. Tenho os outros romances de Pedro Américo aqui comigo, mas,
embora tenha curiosidade de lê-los, sobretudo O Holocausto, que ganhou uma nova edição recentemente, sinto-me
mais estimulado a esmiuçar os detalhes pictóricos da Carioca.
Avaliação: ★
Daniel Coutinho
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