Em 2013, quando li Til, do meu amado Alencar, experimentei uma estranha sensação de
perda. Afinal, era o último romance que me restava ler do meu autor favorito.
Caso parecido se deu agora há pouco quando li O Galo de Ouro, da também amada Rachelzinha. Embora não a aprecie
tanto quanto ao cantor de Iracema,
não pude deixar de lamentar o ter esgotado sua obra romanesca.
A primeira vez que li Rachel de Queiroz foi em
2004, através de O Quinze, seu
romance mais conhecido, que muito me impressionou. Mas minha relação afetiva
com a autora só seria consolidada em 2015, após a leitura de Dôra, Doralina. Daí em diante, sempre
que pegava um novo romance dela para ler, era como se uma vovozinha simpática
me pegasse no colo para contar uma boa história. Foi nesse colinho quente de
vovó que conheci Maria Moura, João Miguel, Noemi, Maria Augusta e, mais
recentemente, Mariano. É desse colinho de vovó que já estou sentindo falta,
embora ainda tenha por aqui títulos em que Rachel se aventurou por outros
gêneros, inclusive as histórias infantis.
O Galo
de Ouro é o único romance de Rachel que não é ambientado no Ceará. A
história se passa na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, onde a escritora
morou por um tempo. Escrito especialmente para o folhetim da revista O Cruzeiro, os quarenta capítulos da
trama saíram entre setembro de 1950 e junho de 1951. Sucesso imediato,
despertou logo o desejo dos editores para publicação em livro, mas Rachel, que
julgava o texto pouco trabalhado e escrito ligeiramente, preferiu engavetar os
originais aos quais retornaria mais de trinta anos depois. A 1ª edição em
volume foi lançada em 1985.
No enredo, acompanhamos a trajetória de Mariano:
suas experiências profissionais e lances amorosos. Logo no começo do livro,
quando Mariano era garçom, ele perde sua companheira Percília num acidente de
carro, além de ficar semialeijado do braço direito. Sua filha Gina passa a
viver sob os cuidados da comadre Loura e Mariano vai trabalhar como bicheiro
(banqueiro de jogo do bicho), passando a residir na Ilha do Governador, onde
levantara a casa na qual pretendia viver com Percília.
Por esse tempo, nosso protagonista conhece
Nazaré, uma mocinha namoradeira que suspirava por gozar os divertimentos da
cidade. Mariano se interessa por ela, mas a pequena mantém um namoro secreto
com Zezé, um malandro de péssima reputação. Nazaré, embora bastante atraída por
Zezé, reconhece em Mariano uma possibilidade mais consistente para mudar de
vida e, por isso, aceita sair com ele. Este, sabendo da existência de Zezé,
aproveita-se da circunstância de Nazaré ter recebido do namorado um anel
roubado para denunciá-lo às autoridades. Mas algo inesperado acontece...
O Galo
de Ouro, não obstante sua ambientação carioca, segue o estilo
simples e fluente dos melhores romances de Rachel. A história é contada de
forma bastante convincente e os tipos são tão realistas, que se torna
incontestável dizer que todos foram tirados do meio em que Rachel viveu nos
anos 40.
Apesar da já citada sensação de perda, tive com
este último romance uma despedida muito feliz, tanto que o prolonguei o mais
que pude, o que me rendeu duas semanas no colo aconchegante da vovó. Mas
pressinto que ainda me depararei com muitos outros colos acolhedores. Quem sabe
algum me faça recordar o balançar da cadeira de Rachel, sua vozinha melodiosa,
o frescor de seu alpendre...
Ó, minha querida, Não Me Deixes!
Avaliação: ★★★★
Daniel Coutinho
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Estou ainda lento esse romance. Maravilhoso!!!
ResponderExcluirSim, muito bom, mas meus favoritos ainda são "O Quinze" e "Dôra, Doralina" :)
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