Não é sempre que me atento à popularidade de autores
contemporâneos, mas, a falar a verdade, o sucesso do senhor Stephen King já vem
de longas datas e, por conta disso, acabei me interessando por conhecer o talento
deste norte-americano que tem colecionado inúmeros sucessos há mais de quarenta
anos.
O livro escolhido, Carrie (1974), é sua obra de estreia. A escolha deve-se à minha
admiração anterior pelo filme clássico de 1976, mas confesso que também gosto
do remake de 2002, produzido para a TV. Desejava muito conhecer a história no
original e daí resultou a oportuna ocasião para ler um dos mais renomados
mestres do terror moderno.
Conquanto tenha sido publicado nos anos 70, Carrie versa sobre um tema bastante
atual, hoje denominado de “bullying”. Carietta White, ou simplesmente Carrie, é
uma garota de dezesseis anos com dificuldades de socialização. Seu
comportamento tímido e introvertido resulta da pressão religiosa que a mãe
exerce sobre ela. Com uma rotina cheia de restrições e um estilo de vida regido
pelo fanatismo da mãe, Carrie causa aversão aos colegas e acaba sendo vítima da
incompreensão deles.
Durante um banho no vestiário feminino, Carrie
tem sua primeira menstruação e, por sua justificável ignorância, provoca risos
nas colegas, que a insultam maldosamente enquanto lhe atiram absorventes e
toalhas higiênicas. O episódio é interrompido pela professora de educação
física, que impõe um castigo às meninas. Um destas, porém – Chris Hargensen –,
demonstra resistência ao castigo e, por conta disso, é impedida de participar
do Baile da Primavera.
Sue Snell, que fizera parte do grupo insultuoso
do vestiário, numa tentativa de redimir-se consigo mesma, convence seu namorado,
Tommy Ross, a levar Carrie em seu lugar no Baile da Primavera. A novidade do
caso acaba sugerindo a Chris a oportunidade de uma vingança tenebrosa,
inusitada e sangrenta. Mas Chris e seus cúmplices não contavam com a habilidade
paranormal de Carrie: a telecinesia (capacidade de mover objetos com o poder da
mente).
A narrativa de Carrie é intercalada com fragmentos de outros livros que tratam
justamente das consequências finais da trama, como também depoimentos de
pessoas que testemunharam o incidente do baile. Surpreendeu-me a habilidade
demonstrada pelo autor na construção da veracidade de sua obra: é visível a
preocupação dedicada a este quesito.
A trama teria sido incrivelmente impressionante
se eu já não soubesse praticamente tudo o que decorreria nela, graças aos
filmes assistidos. Embora nenhum deles seja rigorosamente fiel ao original,
mesmo assim entregam bastante do que se lê nas páginas do livro. A experiência
de leitura, felizmente, não é perdida, pois King revela-se um escritor de
talento e bom gosto, prezando por tornar sua história convincente e aceitável,
a despeito de seu caráter fantástico.
Penso contudo que, tivesse o autor dado menos
espaço aos artifícios com que intercala a narrativa linear, o romance teria
fluído melhor, uma vez que as interrupções persistem ao longo de todo o livro.
Algumas escolhas da trama também me pareceram exageradas e excessivamente
dramáticas. Mas, para uma obra de estreia, Carrie
é sem dúvida mais que razoável.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
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