quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Carrie, de Stephen King - RESENHA #113

Não é sempre que me atento à popularidade de autores contemporâneos, mas, a falar a verdade, o sucesso do senhor Stephen King já vem de longas datas e, por conta disso, acabei me interessando por conhecer o talento deste norte-americano que tem colecionado inúmeros sucessos há mais de quarenta anos.

O livro escolhido, Carrie (1974), é sua obra de estreia. A escolha deve-se à minha admiração anterior pelo filme clássico de 1976, mas confesso que também gosto do remake de 2002, produzido para a TV. Desejava muito conhecer a história no original e daí resultou a oportuna ocasião para ler um dos mais renomados mestres do terror moderno.

Conquanto tenha sido publicado nos anos 70, Carrie versa sobre um tema bastante atual, hoje denominado de “bullying”. Carietta White, ou simplesmente Carrie, é uma garota de dezesseis anos com dificuldades de socialização. Seu comportamento tímido e introvertido resulta da pressão religiosa que a mãe exerce sobre ela. Com uma rotina cheia de restrições e um estilo de vida regido pelo fanatismo da mãe, Carrie causa aversão aos colegas e acaba sendo vítima da incompreensão deles.

Durante um banho no vestiário feminino, Carrie tem sua primeira menstruação e, por sua justificável ignorância, provoca risos nas colegas, que a insultam maldosamente enquanto lhe atiram absorventes e toalhas higiênicas. O episódio é interrompido pela professora de educação física, que impõe um castigo às meninas. Um destas, porém – Chris Hargensen –, demonstra resistência ao castigo e, por conta disso, é impedida de participar do Baile da Primavera.

Sue Snell, que fizera parte do grupo insultuoso do vestiário, numa tentativa de redimir-se consigo mesma, convence seu namorado, Tommy Ross, a levar Carrie em seu lugar no Baile da Primavera. A novidade do caso acaba sugerindo a Chris a oportunidade de uma vingança tenebrosa, inusitada e sangrenta. Mas Chris e seus cúmplices não contavam com a habilidade paranormal de Carrie: a telecinesia (capacidade de mover objetos com o poder da mente).

A narrativa de Carrie é intercalada com fragmentos de outros livros que tratam justamente das consequências finais da trama, como também depoimentos de pessoas que testemunharam o incidente do baile. Surpreendeu-me a habilidade demonstrada pelo autor na construção da veracidade de sua obra: é visível a preocupação dedicada a este quesito.

A trama teria sido incrivelmente impressionante se eu já não soubesse praticamente tudo o que decorreria nela, graças aos filmes assistidos. Embora nenhum deles seja rigorosamente fiel ao original, mesmo assim entregam bastante do que se lê nas páginas do livro. A experiência de leitura, felizmente, não é perdida, pois King revela-se um escritor de talento e bom gosto, prezando por tornar sua história convincente e aceitável, a despeito de seu caráter fantástico.

Penso contudo que, tivesse o autor dado menos espaço aos artifícios com que intercala a narrativa linear, o romance teria fluído melhor, uma vez que as interrupções persistem ao longo de todo o livro. Algumas escolhas da trama também me pareceram exageradas e excessivamente dramáticas. Mas, para uma obra de estreia, Carrie é sem dúvida mais que razoável.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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