A experiência que tive ano passado com A Ira dos Anjos, de Sidney Sheldon,
deixou-me um tanto indisposto em relação ao autor, mas restava-me ainda aqui
comigo Um Estranho no Espelho (1976),
que parecia ser mais promissor.
O livro, felizmente, mostrou-se mais
interessante, apesar de seus altos e baixos. O drama envolvendo Toby Temple e
Jill Castle foi mesmo surpreendente em alguns momentos, além de terrivelmente
pungente. Se por um lado, como de costume, buscava entreter-me com as tramas folhetinescas
de Sheldon, por outro não podia deixar de impressionar-me com os dilemas
vivenciados pelos protagonistas.
Eis um livro que, não fosse escrito tão
ligeiramente, poderia figurar entre os melhores de Sheldon; mas que, mesmo
carregado de imperfeições, alcança algum destaque dentre outros best-sellers do
norte-americano.
Toby Temple, já na infância, revelava talento
para o humor. A mãe do garoto acreditava piamente que o filho estivesse
predestinado a ser um grande comediante. Após engravidar uma garota, Toby
decide fugir para Hollywood, na intenção de, além de livrar-se do compromisso,
tentar a carreira artística. Mas uma série de dificuldades embaraçam seus
planos.
Enquanto Toby batalha pelo sucesso,
acompanhamos, desde o nascimento, a difícil trajetória de outra personagem:
Josephine Czinski. Esta, que escapara à morte por um milagre, órfã de pai, vive
sozinha com sua mãe que, após o falecimento do marido, tornara-se uma fanática
religiosa. A mãe de Josephine trabalha como costureira para muitas famílias
ricas, o que permite o contato da filha com pessoas da alta sociedade. Dentre
essas relações, Josephine acaba se apaixonando por David Kenyon, mas este é
compelido pela família a casar-se com uma garota de sua classe. Desiludida,
Josephine assume a identidade de Jill Castle e também parte para Hollywood,
aspirando por realizar o antigo sonho de chegar ao estrelato.
A essa altura, Toby Temple já é uma estrela consagrada.
É a vez, portanto, de Jill Castle, tal como Toby, submeter-se ao sacrifício da
própria dignidade para chegar ao sucesso. Os dois seguem pois infelizes: ela,
por sentir-se desvalorizada e diminuída pelos grandes produtores; ele, porque,
embora festejado e bajulado por meio mundo de adoradores, experimenta um
inevitável sentimento de solidão. Até que seus destinos finalmente se cruzam.
Incomodou-me estar diante de um contexto que
certamente merecia uma atenção mais acurada por parte do autor. O drama de Toby
Temple e Jill Castle renderia ao livro páginas menos supérfluas do que as que
nos são entregues. Por vezes o romancista nos brinda com passagens mais
atenciosas, permitindo-nos refletir os conflitos da trama, mas certas escolhas
deliberadas e um desfecho apressado prejudicaram o conjunto da obra.
Um
Estranho no Espelho possui assim um ritmo bastante desigual. A
atmosfera de suspense para a qual o autor apela nos capítulos finais confirma
sua incerteza perante os planos que pretendia dar ao livro que, não poucas
vezes, parece ir se construindo de improvisos, passando por episódios isolados
e deixando lacunas aqui e ali. É como um grande rascunho ao qual faltou um
melhor trabalho de edição.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
***
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Honestamente gostei desse livro. Posso concordar com sua nota, embora ache esse bem mais divertido do que A Irá dos Anjos.
ResponderExcluirO último que li, O reverso da medalha, também se mostrou interessante.
Um abraço.
Sim, bem melhor que "A Ira dos Anjos", mas ainda prefiro "A Outra Face" e "O Reverso da Medalha", que é possivelmente o melhor livro dele. Acho que vou parando com Sheldon por aqui, mas tenho uma curiosidadezinha por "O Outro Lado da Meia-Noite" rs. Quem sabe?
ExcluirGrande abraço!