Li por esta que é a 1ª edição do romance (1963) |
Em 2010, quando ganhei o “Prêmio Jáder de
Carvalho”, não fazia ideia de quem fosse o autor cearense homenageado e, desde
então, senti-me na obrigação de ler algum trabalho seu. Da produção romanesca
de Jáder, Aldeota (1963) é a obra que
se sobressai, sendo também a mais acessível, graças às edições Demócrito Rocha
que a reeditou em 2003.
Os dois primeiros terços de Aldeota valem por um excelente romance regionalista, lembrando os
nossos bons prosadores da “Geração de 30”. Mesmo com seus personagens sem conta
e seguindo um estilo meio disperso, a narrativa até então é interessante e nos
torna cuidadosos pelo destino do protagonista Chicó. A última parte, no
entanto, que corresponde ao momento de ascensão do personagem central, faz uma
mudança radical no estilo apostado anteriormente. É como se nos deparássemos
com uma segunda obra que pouco ou nada se assemelha à primeira. O belo romance
regionalista dos onze primeiros capítulos transforma-se num irritante
documentário sobre as origens pouco nobres do aristocrático bairro que dá
título ao livro.
Romance de formação, em Aldeota acompanhamos a trajetória de Francisco das Chagas Oliveira,
o Chicó, que aos doze anos já trabalhava no comboio de Zé Vicente. Menino de
espírito livre e aventureiro, Chicó aprecia o viver sem raízes, buscando
conhecer terras e lugares desconhecidos. A morte de Zé Vicente o detém por
algum tempo em São Mateus, onde o menino emprega-se como secretário de
autoridades locais. Seu instinto andarilho o leva em seguida a Juazeiro, onde
aprende o ofício de ourives. A morte do novo patrão o põe definitivamente à
solta pelo mundo, realizando as mais diversas experiências.
Neste carrossel de trabalhos improvisados, Chicó
chega aos seringais amazonenses, onde, além de uma realidade difícil, ele
encontrará os fundamentos de sua vida futura: o comércio ilegal. De volta ao
Ceará, ele não hesitará em aplicar tudo o que aprendeu no norte, alcançando por
este meio uma fortuna de questionável procedência.
Catarina, filha de portugueses, com quem Chicó
casara em Belém, observa atentamente as falcatruas do marido. Ela, que tem
inclinações literárias, tudo registra em seu caderninho de impressões. Contudo,
a inteligente senhora nada pode fazer além de “envergonhar-se de ser sócia
inocente nas escusas atividades de seu marido”.
Jáder revela em Aldeota diversas qualidades de um bom ficcionista: desenha cenas
pitorescas, como as do comboio de Zé Vicente; mostra-se bem-humorado através
das piadas sacanas do papagaio Capitão; demonstra senso crítico, seja denunciando
a politicagem de uma época ou mesmo desmistificando a lendária figura do Padre
Cícero; constrói enfim diversas situações que ganham o interesse do leitor, mas
muito disso se perde na parte final do romance, para onde tudo converge. A
impressão que tive foi a de fazer um interessante passeio cujo trajeto era mais
interessante que o próprio destino.
A leitura de Aldeota
não me deixou curioso por conhecer outros romances de Jáder. Talvez por ser uma
obra tão multifacetada, dei-me por satisfeito com esta experiência em
particular, que certamente teve algum valor. A verdade, porém, é que o nome
Jáder de Carvalho será sempre lembrado com carinho pelo estreante romancista de
O Senhor Irineu.
Avaliação: ★★
Daniel Coutinho
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Oi Daniel estou muito interessado no livro, mas não encontro mais edição. Gostaria de tirar uma cópia pois é muito importante para uma pesquisa que estou desenvolvendo no mestrado. Meu e-mail: afabio.macedo@alu.ufc.br
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