Há desses livros que
se mantêm num nível de literatura que está acima da mediocridade e abaixo da
grandiosidade. Eu, particularmente, aprecio bastante em alguns momentos esse
tipo de leitura, que casa perfeitamente com uma viagem ou uma simples fila de
espera. Iperoig (1954), do paulista
Leão Machado (1904-1976), se encaixa perfeitamente nesse nicho.
É bastante
compreensível que esses livros “medianos” acabem condenados ao esquecimento; contudo,
não deixam de ser quitutes saborosos para leitores curiosos como eu. Iperoig é de uma leveza tentadora para
certas ocasiões. A simplicidade do formato e a pouca densidade do enredo fazem
uma limpeza cerebral que por vezes não se pode dispensar.
Assim, sem maiores
dificuldades, acompanhamos a bela Lucila no ônibus para Iperoig, compreendendo
suas expectativas para o futuro e atentos às circunstâncias da nova vida da
professora em começo de carreira. Não é difícil se identificar com a jovem
idealista que pensa ser capaz de mudar o mundo, mas vê-se impedida pela
realidade dura e cruel das classes menos favorecidas.
Qual de nós, trabalhadores
desse mundo moderno, jamais questionou a serventia do que aprendemos nas
universidades quando aplicada à nossa rotina profissional? Em pouquíssimo tempo
Lucila compreende que precisará adaptar seus conhecimentos à realidade da Praia
da Enseada, localidade de sua lotação. Ela travará conhecimento com pessoas que
compartilham das mesmas dificuldades da prática, como também com aqueles que
vivem iludidos com o fiel cumprimento das teorias.
Nesse contexto
desafiador, a interferência de Alberto será de fundamental importância para que
Lucila não se sinta frustrada. Além de beber na fonte da experiência do
companheiro, a jovem professora acabará, de sobra, descobrindo o amor. Mas
claro é que, nesse previsível lance amoroso, obstáculos surgirão para que o
leitor possa torcer um bocado pelos mocinhos do romance.
Uma peculiaridade
interessante da escrita de Leão Machado é seu fascínio pela descrição da
natureza. O romance é todo entremeado por paisagens devidamente emolduradas em
quadros à parte, de maneira a querer chamar a atenção do leitor para os
cenários exuberantes dessa trama litorânea. Esse recurso aparece do início ao
fim e, a meu ver, confere ao livro um caráter positivamente mais artístico.
Os tipos e costumes
descritos também são de grande interesse, mas infelizmente recebem um
tratamento pouco satisfatório, uma vez que o autor não se aprofunda nos
personagens secundários, que poderiam render boa matéria para o romance.
Dentro do que se
propõe, Iperoig é um livro bom, mas
definitivamente não é uma obra para grandes públicos. Felizmente, durante a
leitura, pude criar uma conexão agradável com a prosa do autor, de modo que a
mesma nunca me parecia chata ou cansativa. É provável que o desfecho tenha sido
o ponto que menos gostei, mas, até chegar lá, o percurso da narrativa soube ser
aprazível à sua maneira.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
***
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