Eis que
neste fim de ano, às vésperas do natal, retorno a ele: um dos nomes mais
retumbantes do romantismo francês, o senhor Alexandre Dumas. Dele eu só havia
lido o delicioso A Tulipa Negra, que
muito me empolgou uns cinco anos atrás. Ainda estou me preparando
psicologicamente para encarar a trilogia dos Mosqueteiros e O Conde de
Monte Cristo, suas obras máximas. Um dia rs!
Cecília (1844) é
uma obra menor na produção literária de Dumas, tanto em extensão quanto na
qualidade. É, em resumo, o clássico romance romântico onde tudo dá errado.
Mesmo sendo atentamente fiel às fórmulas desgastadas já naquela época, o
diferencial de Cecília é a deliciosa
escrita do criador de D’Artagnan.
O enredo, de
fundo histórico, é sobre as desventuras de uma família de nobres perante a
Revolução Francesa. Após a execução do esposo, a baronesa de Marsilly foge com
a mãe e a filha pequena para uma pitoresca aldeia no interior da Inglaterra.
Cecília é pois criada nesse lar idílico e torna-se uma jovem bela e de forte
inclinação artística.
A baronesa,
de saúde frágil, prevendo uma morte iminente, preocupa-se em garantir o futuro
da filha. Seu desejo é casá-la com Eduardo, um rapaz sem sobrenome
aristocrático, mas de futuro promissor. No entanto, ironicamente, a humilde
Cecília acaba se apaixonando por Henrique, um jovem sem fortuna, mas de família
ilustre. A partir desse dilema e das circunstâncias presentes, Cecília será
obrigada a fazer sua própria escolha.
Ler Cecília trouxe-me saudades da época em
que eu tinha tempo e paciência para fazer marcações de trechos. Inúmeras
passagens e fraseados bonitos encheram-me os olhos. Eu, um apreciador confesso
da linguagem romântica, tive grande deleite: mais em momentos específicos que
na obra em si como um todo.
O capítulo
em que Dumas descreve os passatempos da protagonista, sempre entretida com as
flores, os pássaros e as borboletas, foi um dos meus favoritos. Outro aspecto
que me sensibilizou bastante foi o apreço pela memória. Cecília esforça-se por
preservar episódios de sua vida passada, especialmente os mais remotos, cuja
lembrança não lhe é clara. Há ainda muitos outros momentos do livro que,
isoladamente, mereciam uma releitura.
O tom
desigual da narrativa evidencia a presença de um colaborador. Como todos
sabemos, Dumas, que tornou-se um gigante dos folhetins, tinha lá seus ajudantes
que, justiça seja feita, não eram escritores medíocres. Mas, sobretudo nos
capítulos finais, a pena de um estilista mais refinado fez bastante falta.
A vantagem
de ler Cecília não está no enredo
desgastado e de tema batido. O que o texto oferece de precioso são detalhes e
momentos da narrativa escritos em linguagem poética e de grande sensibilidade,
capazes de aquecer o coração do leitor. O que quero dizer é que os bons
momentos do romance são tão bons, que valem a leitura do livro todo.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
***
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