Tenho muita admiração pela obra de Camilo Castelo
Branco, mas numa bibliografia tão vasta como a do autor do Amor de Perdição
é natural que nos deparemos com trabalhos menos inspirados, especialmente
aqueles produzidos nos primeiros anos de sua trajetória ficcional.
Carlota Ângela
(1858) é o romance menos interessante de Camilo dos que li até então.
Lembrou-me bastante As Tardes de um Pintor, de Teixeira e Sousa, com
aquela aura de século XVIII, sendo o romance brasileiro superior em minha
humilde opinião.
Típico exemplo de literatura romântica em língua
portuguesa, Carlota Ângela conta a história da protagonista que dá
título ao livro, valendo-se do clássico modelo do casal separado pelas
diferenças sociais. Carlota e Francisco desejam casar-se, mas a baixa posição
do rapaz, que é tenente da Marinha, é motivo suficiente para que Norberto, o
pai da moça, seja contra a união dos jovens.
Prevendo a negativa paterna, Carlota planeja
recorrer à Justiça para unir-se ao amado, mas Norberto se adianta à filha,
apoiando-se em Sampaio, seu cunhado, que obtém a remoção de Francisco para o
Brasil, ação esta que lhe garante uns bons trocados saídos da bolsa do pouco
astuto pai de Carlota.
Longe de seu amado, Carlota decide encerrar-se
num convento, o mesmo de sua tia Rufina, que será sua aliada a partir daí. A
ideia da moça é resguardar-se até o retorno de Francisco; mas Norberto, que
deseja casar a filha com algum negociante rico, recorre mais uma vez à astúcia
de seu cunhado, para juntos urdirem calúnias capazes de separar os apaixonados
em definitivo.
O romance de Camilo segue nesse modelo já tão
desgastado mesmo para sua época. Contudo, devemos considerar que foram esses
primeiros trabalhos ficcionais do decênio de cinquenta que deram a Camilo a
perícia necessária para compor grandes obras que viriam a partir da década
seguinte.
Em Carlota Ângela o que mais fez falta foi
aquele narrador buliçoso e intrometido que aqui ainda está engatinhando. De
fato, as narrativas de Camilo valem mais pelos artifícios e recursos
estilísticos que pelas tramas fabulosas que nunca foram o seu forte. No mais, Carlota
Ângela não é um livro para se conhecer ou gostar da novelística camiliana;
antes, é obra útil para quem deseja se aventurar no estudo e análise da ficção
do grande escritor português.
Avaliação: ★★
Daniel Coutinho
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