Meu primeiro
contato com Oscar Wilde foi durante a faculdade, quando tive que ler O Retrato de Dorian Gray para um
trabalho acadêmico. Fiquei bastante impressionado com o estilo do autor, cuja
preocupação artística, sempre evidente, seduzia-me durante a leitura. A beleza
da prosa de Wilde motivou-me a conhecer seus outros escritos, mas só
recentemente pude ler as três coletâneas de contos lançadas em vida do autor.
O Príncipe Feliz e outros contos (1888) revelou-me, contudo, uma faceta de Wilde
que eu ignorava. A coletânea reúne cinco contos infantis impregnados de virtude
e moralidade, porém, sem perder de vista a criticidade tão comum ao autor do Dorian Gray. Além disso, outro fator
digno de atenção é a influência cristã presente nessas histórias.
A aura de
contos de fada presente em toda a coletânea não impede que o estilista irlandês
faça uso do pessimismo e melancolia tão comuns à escola romântica. As
histórias, de modo geral, não são felizes, mas deixam uma mensagem pautada nos
valores da boa conduta.
Em “O
príncipe feliz”, por exemplo, uma estátua de ouro e uma andorinha sacrificam-se
pelo bem do próximo. Se tal gesto resulta positivamente, por outro lado, em “O
rouxinol e a rosa”, o sacrifício empreendido acaba sendo inútil, já que os
esforços do pássaro para ajudar um estudante são invalidados ao final do conto.
Se Deus é
citado em “O príncipe feliz”, a figura de Cristo é que aparece em “O gigante
egoísta”, um conto sobre transformação. Na história, a pureza das crianças,
principalmente a de um “menino especial”, combaterá o egoísmo de um gigante
ranzinza e solitário.
“O amigo
devotado” é outro exemplo de conto que reflete a atenção que devemos ter para
com aqueles que são alvo de nossa nobreza. É mais uma história onde o
sacrifício é questionável. Quanto a “O foguete notável”, que encerra a
coletânea, temos nele uma crítica bem-humorada à vaidade humana e suas
frivolidades.
Estas
fábulas wildianas, conquanto também possam ser apreciadas por adultos, não me
deslumbraram como ocorreu com o Dorian
Gray. É possível que tivessem me agradado mais na adolescência ou até na
infância, desde que sob a supervisão de um adulto. Mas certamente não deixam de
constituir um exercício saudável para passar o tempo.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
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