Germaine
Acremant (1889-1986) foi uma premiada escrita francesa do século passado. Foi
mais um dentre tantos conhecimentos que travei a partir da lendária Coleção
Saraiva, em torno da qual estou fazendo um projeto pessoal de leitura este ano.
Infelizmente a autora não caiu na minha graça, o que tentarei justificar por
esta resenha.
A Vida que Sonhei (1928) é o tipo de livro que em nada me cativou, daqueles que, se não
fosse tão curto, eu certamente teria abandonado. A escrita, mesmo simples e
fluida, não tem maiores atrativos. Os personagens são tipos desinteressantes e
pouco aprofundados. O enredo é arrastado e desenxabido. Foi um péssimo começo
enfim com a obra de Germaine que, imagino, deve ter publicado livros melhores.
Eu
simplesmente não consegui absorver os propósitos do livro, pois mesmo aquilo
que parecia ser o ponto central do romance (a frustração de um homem após uma
mudança de vida) não é devidamente desenvolvido ou tratado com detença. Além do
quê, a narrativa, que pretende ser humorística, em momento algum dialogou com
minha veia cômica.
Bonifácio
Cottebeke, o protagonista, é um homem de meia-idade que, após muitos anos
trabalhando com o comércio de móveis, decide aposentar-se e desfrutar dos
rendimentos obtidos numa cidade pequena onde pudesse passar por capitalista.
Essa era a “vida sonhada” por ele, mas, ao ver-se longe de suas ocupações
habituais, torna-se um velho ranzinza e avarento.
Desprovido de
suas atividades comerciais, o Sr. Cottebeke assume o controle de todos os
gastos na nova casa, batendo-se de frente sobretudo com Melânia, a criada que
acompanha a família há anos. Luísa, a esposa do capitalista, percebendo as
mudanças no marido, lamenta a vida que deixaram para trás; contudo, nada
realiza contra sua insatisfação. A filha do casal, Lúcia, talvez a personagem
mais insuportável do livro, longe de manifestar interesse pelos pais, só deseja
partir para um internato em Paris.
A entrada do
Dr. Bruno Padisty na história, que prometia ser a salvação da trama, pouco
acrescenta de interessante. Bruno torna-se pensionista do Sr. Cottebeke que, de
sua parte, vê no jovem médico um candidato favorável a genro. Viviana é outra
personagem falsamente promissora. Sua participação no livro é tão
desinteressante quanto a de qualquer outro personagem. Nem para compor um
triângulo amoroso ela serviu; tal como Inácio Plaetevoet foi um péssimo
antagonista.
Em resumo, A Vida que Sonhei traz uma história rasa
que em nada se aprofunda. O leitor espera do protagonista um momento de consciência
pelo qual ele perceba o quanto subestimou sua vida no comércio, para que
finalmente reconheça o equívoco que constituiu sua “vida sonhada”. De Luísa
esperava-se uma reação mais notória quanto à sua insatisfação na nova cidade,
nem que fosse através de um desabafo. Do núcleo romântico, esperava-se uma
intriga amorosa que fosse. Nada disso nos entrega a autora!
A Vida que Sonhei nem como entretenimento funcionou para mim. É o tipo de livro que,
daqui a alguns dias, precisarei consultar esta resenha para lembrar do que se
trata. Ainda acho que fui generoso com minha avaliação final, mas a tradução de
Octávio Mendes Cajado, que nos dá um texto cuidadosamente estabelecido, desconfio,
tornou tudo menos pior.
Avaliação: ★★
Daniel Coutinho
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