“Paulo
Coelho não é literatura”, bradavam meus professores. Isto soa familiar? Parece
que sim, uma vez que já é quase convenção entre muitos estudiosos da Literatura
depreciar a obra do escritor brasileiro mais traduzido no mundo todo.
Como deve
ter acontecido a muita gente, fiquei desestimulado a conhecer os livros do
célebre autor carioca, deixando-me persuadir por opiniões até então dignas da
minha confiança. Agora que finalmente li O
Alquimista (1988), descobri que Paulo Coelho é sim um bom prosador. Se é
dos que repetem fórmulas e revelam pouca criatividade (considerando-se o
conjunto de sua produção ficcional), isso já não sei.
Minha
recente experiência com O Alquimista
veio reiterar um antigo pensamento que faço questão de compartilhar com meus
leitores: Leiam tudo que vocês tiverem vontade, independente do que digam a
respeito, seja literatura infantil, seja romance erótico, seja autoajuda, seja
livro best-seller, seja o rótulo do detergente rs. Se deu vontade, leia! E
apenas pela leitura tire suas próprias conclusões.
Passando ao
objeto desta resenha, O Alquimista é
uma extensa fábula sobre um jovem pastor de ovelhas que, após ter o mesmo sonho
duas vezes, procura uma cigana, na tentativa de descobrir o seu significado. No
sonho, Santiago encontra uma criança que pretende lhe mostrar um tesouro
escondido nas pirâmides do Egito, mas o pastor acaba acordando antes de chegar
ao lugar exato.
A cigana
revela que o tesouro será encontrado, mas, antes, exige a promessa de que
Santiago lhe dará a décima parte do achado. Incrédulo de tal interpretação, o
pastor acaba encontrando, pouco depois, um velho que se apresenta como o rei de
Salém. O estranho ancião, além de demonstrar conhecer o passado de Santiago,
promete ajudá-lo a encontrar seu tesouro em troca de um décimo de suas ovelhas.
Assim
ajustados, o rapaz recebe duas pedras místicas do rei de Salém, que, segundo o
velho, serviriam de auxílio durante a jornada até as pirâmides. Santiago deixa
então a Espanha e segue em busca do que ele acredita ser sua Lenda Pessoal. A
segunda parte do livro conduz o leitor por esta peregrinação espiritualista até
seu surpreendente desfecho.
O maior
mérito d’O Alquimista está na
capacidade que teve seu autor em fazer uso de uma linguagem simples e objetiva
que nos remete aos grandes fabulistas clássicos cujos textos eram marcados por
um poder de oralidade fascinante. Dessa forma, o livro consegue atingir um
público vasto e diversificado, podendo ser lido com deleite por crianças e
adultos.
Quanto aos
aspectos religiosos/espiritualistas, que permeiam toda a obra, se entendidos
como fruto da formação do narrador, em nada comprometem as qualidades
literárias da narrativa. Se uma história é narrada sob o ponto de vista de um
católico, um islamita ou mesmo um bruxo, ela poderá ser boa ou ruim, a depender
do quanto a crença do autor interfere no texto. Se a ficção perde terreno para
a pregação, o texto deixa de ser literário, o que não é o caso d’O Alquimista.
Conquanto
esta minha primeira experiência com Paulo Coelho não tenha provocado o
entusiasmo que me é comum diante de meus ficcionistas favoritos, a surpresa de
encontrar algo aproveitável naquilo que eu julgava ser uma escória incorrigível
deixou-me bastante satisfeito e até mesmo curioso por conhecer outros títulos
do autor.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
***
Olá Daniel.
ResponderExcluirPara o próximo livro de Paulo Coelho a ser lido sugiro "O Diário de um Mago" sobre o Caminho de Santiago de Compostela. Dizem que "O Diário" e "O Alquimista" se completam.
Boas leituras,
SB.
Obrigado pela sugestão. Um abraço!
ExcluirEu continuaria com Paulo Coelho, lendo Verônica decide morrer. Acho uma ótima leitura. Paulo Coelho é muito apedrejado por muitos críticos, mas de fato ele é o autor brasileiro mas lido no mundo!
ResponderExcluirQue curioso, Danilo! Eu comprei há poucos dias justamente o "Veronika Decide Morrer". Será o próximo que vou ler do Paulo Coelho. Já ouvi comentários bastante positivos e espero gostar também. Abraço!
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