É um
livrinho bobinho, sem dúvida, escrito num estilo piegas e sentimental, superado
há muito pelos nossos melhores prosadores românticos, como José de Alencar. No
entanto, trata-se de uma novelinha de ritmo formidável, dessas que se leem
rapidamente e com relativo interesse.
Se
desconsiderarmos exageros do tipo: amores à primeira vista, mocinhas
sequestradas e vilões facinorosos, teremos uma história quase ótima. Mas como
esses clichês românticos eram garantia de público, compreende-se melhor o
estilo adotado por um ficcionista que buscava tornar-se conhecido.
Paulo de Oliveira
é o “mendigo do Lavradio”. Após sofrer um desmaio, o pobre homem é logo
socorrido pelo generoso Carlos Augusto, que, além de conduzi-lo de volta para
casa, presta assistência ao enfermo durante toda a noite. Nesse intervalo de
tempo, Carlos enamora-se de Celina, a filha do mendigo.
A jovem
Celina, por sua vez, encanta-se pelo salvador de seu pai, e vibra de felicidade
ao ouvir Carlos pedir sua mão. Mas o experiente Paulo, sabendo ser aquele moço
filho de um visconde, desacredita que este possa dar seu consentimento à união
dos jovens. Com efeito, o pai de Carlos nega-se terminantemente à aprovação de
um casamento tão desigual e convence o filho a partir para a Europa.
Entretanto,
novas circunstâncias conduzirão a família do mendigo do Lavradio a Portugal,
onde o encontro com Carlos será inevitável. Mas a bela Celina acaba acendendo
paixões em outros dois personagens: o velho José Basílio, um solteirão
milionário; e Leonidas, o inescrupuloso conde de Manzanares.
É por essa
teia de lances amorosos que o ficcionista conduz sua trama, regada a
envenenamentos, roubos, entrevistas noturnas, aparições sobrenaturais,
assassinatos, dentre outros ingredientes folhetinescos.
A influência
da doutrina espírita é bastante evidente no texto de Júlio César Leal. Em
determinado momento, quando da explicação de uma cena sobrenatural, temos uma
série de “relatos verídicos” sobre experiências que “confirmam” a vida após a
morte. Mas não temos aqui, felizmente, nenhum tipo de pregação religiosa. O
livro, enquanto obra visivelmente despretensiosa, limita-se a mostrar uma
sequência de situações segundo um ponto de vista que não se impõe como verdade
absoluta.
Casamento e Mortalha no Céu se Talha funciona mesmo como divertido passatempo para quem,
como eu, aprecia a literatura brasileira dos oitocentos. É um entretenimento
deveras interessante e que não exige muito tempo ou esforço. A prosa de Júlio
César Leal, se não revela grandes qualidades estilísticas, ao menos entrega um
texto bem cuidado e de ritmo regular, o que pra mim já é alguma coisa.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
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