Quando penso em romance indianista, só lembro de
Alencar, pois até então não tinha lido outros que não os do cantor de Iracema. Não sabia que o romance de
estreia de Bernardo Guimarães tratava-se de obra indianista. O que sabia d’O Ermitão do Muquém era seu pioneirismo
na história do romance regionalista nacional. O caso é que, dividido entre
essas duas tendências, o romance está simplesmente formidável. Há muito que não
lia um novo romance do autor, que é um dos meus românticos favoritos,
especialmente pela sedução que tem a sua escrita.
Editado ora como “O Ermitão de Muquém”, ora como
“O Ermitão do Muquém”, o título mais correto vem a ser este último, por ser o
que consta na 1ª edição, como nas posteriores impressas em vida do autor. O subtítulo
acusa: História da fundação da Romaria de Muquém na província de Goiás.
Festejada até os dias de hoje pelos fieis devotos, a romaria de Muquém tem sua
origem romanceada por Bernardo Guimarães que, na introdução de seu romance,
alega ter ouvido toda a narrativa da boca de um romeiro, enquanto fazia pouso
num rancho mineiro. Contudo, embora não possa afirmar, acredito que toda a
fabulação d’O Ermitão do Muquém é
fruto da imaginação de seu autor, uma vez que não encontrei referências à
narrativa em outras fontes.
O romance é dividido em quatro “pousos”, que
correspondem àqueles realizados pela comitiva do autor, durante a narração do
romeiro. Vamos pois à história!
Gonçalo é um típico valentão de Vila Boa (atual
Goiás) que desafia a quantos queiram medir forças com ele. Ainda que inspirado
pelos bons sentimentos recebidos dos falecidos pais, a índole de Gonçalo instiga-o
à vida rude e desregrada. Num dia em que via-se louco por uma briga, decide
provocar seu amigo Reinaldo, insinuando-se para Maroca, a namorada do rapaz. A
situação dá lugar a um sangrento combate, onde Reinaldo acaba morto e Maroca enlouquece
de tão impressionada.
Fugitivo das autoridades, Gonçalo buscará
refúgio entre os selvagens, passando por várias peripécias até chegar
finalmente à tribo dos Xavantes, onde conhecerá a bela Guaraciaba, por quem
logo se apaixona. A virgem, filha do velho cacique Oriçanga, já está, no entanto,
prometida desde o berço ao intrépido guerreiro Inimá. Como os sentimentos de
Itajiba (Gonçalo é chamado assim pelos Xavantes) são bem recebidos por
Guaraciaba, e ele também acaba ganhando a simpatia de Andiara, principal pajé
da tribo, decide-se realizar uma grandiosa prova entre os rivais, para a
escolha do companheiro da filha de Oriçanga.
O poder de ambientação de Bernardo Guimarães é
algo surpreendente, de maneira que sentimo-nos dentro da história o tempo todo.
De fato, as cenas são pintadas com cores tão vivas e cintilantes que, atreladas
à escrita fluida e feiticeira do autor, fazem a leitura voar. O estilo é, tal
como em outras obras já lidas desse grande mineiro, deliciosíssimo. Verdade é
que a pintura indianista não é da mesma precisão de um Alencar, mas o senão
acaba sendo justificado pelos intermédios que tem a história que, como disse, é
relatada por um romeiro que, por sua vez, a ouviu de terceiros.
Indiscutível é que a empolgação despertada pela
leitura não me dava oportunidade de prestar atenção em mais nada que não fosse
a trama. Mas, claro, não pude deixar de apreciar a beleza da frase de Bernardo
Guimarães, que vale por um aconchegante cafuné.
Avaliação: ★★★★★
Daniel Coutinho
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