D. Júlia é um talento inegável. Dentre todas as escritoras brasileiras que já li, sua obra tem ressaltado com um viço e uma potência impressionantes, e isto vem se confirmando com mais força a cada nova leitura. A Viúva Simões (1895) é minha sexta experiência com a autora e, como já esperado, o livro caiu na minha graça.
É
simplesmente maravilhoso quando lemos um autor pelo qual nos apaixonamos,
principalmente quando, a cada novo livro, essa paixão só aumenta. Os livros de
Júlia Lopes de Almeida conversam comigo de uma forma encantadora, pois o estilo
deles vai diretamente ao encontro do meu gosto pessoal. A escolha dos temas, a
construção dos enredos, a caracterização e atuação dos personagens, a condução
da narrativa, o estilo de escrita... Tudo isso me agrada. Talvez o uso de alguns
estrangeirismos seja o único ponto incômodo, mas nada que tire o brilho desses
livros tão preciosos que a autora nos deixou.
Em A Viúva Simões, acompanhamos o drama de
Ernestina que, tendo enviuvado muito jovem, renova suas antigas inclinações por
Luciano, seu primeiro amor. O antigo namorado, porém, embora atraído pela
viúva, é um homem mundano, avesso a compromissos. Depois de uma longa ausência,
tendo vivido muitos anos na Europa, Luciano retorna ainda solteiro e passa a
frequentar a casa de Ernestina, com quem flerta descaradamente.
Ernestina,
contudo, possui uma filha já crescida, a jovem Sara, que em tudo lembra o
falecido comendador Simões. Luciano antipatiza a garota à primeira vista, e não
se esforça em nada por esconder da mãe sua opinião em relação à filha, mesmo o
que diz respeito à aparência dela. Ernestina esforça-se ao máximo por apaziguar
a situação, especialmente depois que Sara começa a perceber um movimento de
mudanças acontecendo em sua casa.
Fiel à
memória do pai, Sara encara pessimamente as atitudes da mãe, que interrompe o
luto em menos de um ano. Mas essa alteração de cores no visual da família faz
ressaltar a beleza de Sara, que já não é mais tão desinteressante aos olhos de
Luciano. Uma aproximação inevitável entre os dois desencadeia uma série de
acontecimentos dramáticos e até trágicos.
Uma
qualidade das mais excelentes em D. Júlia é o manejo dos personagens
secundários, sempre valorizados em seus romances. A caracterização que ela nos
dá faz com que os enxerguemos tão nitidamente quanto as figuras centrais, e o
movimento deles em cena confere um toque bastante realista aos episódios da
trama. Os empregados de Ernestina não são meros figurantes. Ainda que a autora
não se atenha a todos por igual, conhecemos suas existências, suas rotinas e
suas aspirações.
Outra
característica já percebida em leituras anteriores, e que considero muito
positiva, é esse “efeito crescente” nos seus romances. À medida que avançamos
no texto, a trama parece ganhar mais consistência, como um caldo que vai
engrossando até atingir o ponto ideal. Quando finalmente chegamos ao desfecho,
temos a imagem final de uma obra belamente acabada, onde, de modo geral, tudo
está no seu devido lugar e nada mais precisa ser dito.
A Viúva Simões me deixou ainda mais apaixonado por sua autora. D. Júlia é hoje para
mim um porto seguro, um lugar aconchegante onde sempre serei bem recebido. É um
alento saber que ainda tenho vários livros dela para desfrutar. São essas
alegrias que nos mantêm sendo leitores. E como isso é bom!
Avaliação: ★★★★★
Daniel Coutinho
***
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E-mail para contato: autordanielcoutinho@gmail.com
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