Vicente Felix de Castro foi um dos pioneiros do
romance de costumes em São Paulo. Escritor provinciano, empenhou-se em divulgar
seus trabalhos literários, seja através do jornal, seja pela difícil publicação
em livro. Os Homens de Sangue (1873),
romance de caráter abolicionista, foi sua última obra publicada em vida.
Mesmo sendo adepto dos modelos românticos,
Vicente Felix de Castro realiza forte crítica social, denunciando os abusos
sofridos pelos escravos, o despotismo dos titulares do império e a impunidade
nas províncias. Seu estilo é de extrema simplicidade, o que calharia bem
perante seu público-alvo: as classes populares.
Consciente de suas limitações estilísticas, o
autor classifica seu romance de tosco, sempre recorrendo à boa indulgência do
leitor. Mas não confunda-se aqui simplicidade com desleixo. O texto do
romancista é bem trabalhado em diversos aspectos, sobressaindo-se o tom de
oralidade, que chega a lembrar a prosa sertaneja de Bernardo Guimarães.
Os
Homens de Sangue possui aquele agradável tom de conversa,
prezando por uma fluência que se ampara não poucas vezes na construção de
diálogos leves e esclarecedores. Quase não há espaço para descrições ou
digressões prolongadas, privilegiando-se o ritmo da narrativa, que é sempre
ágil e sem grandes rodeios.
Na trama, temos Ricardo de Lima, jovem enjeitado
que, logo no começo do romance, nos é apresentado como sócio de um traficante
de escravos. Após uma negociação na fazenda do Campo Alegre, Ricardo é
contratado como secretário particular do comendador Carlos de Almeida, homem
ambicioso que rivaliza em importância com o barão do Taquaral.
Este barão, por sua vez, igualmente ambicioso,
esconde um crime em seu passado, o que nos leva a outro núcleo da trama
composto pela família de Leonardo, um velho pescador que no passado ajudara ao
barão, sendo mais tarde desprezado por este. Leonardo, suspeitando a
criminalidade do barão, decide buscar provas para denunciar o titular às
autoridades.
No Campo Alegre, Ricardo toma conhecimento do
cruel tratamento dado aos escravos do comendador, principalmente pelos relatos
de Pai João Congo, negro cuja esposa e filho haviam sucumbido à violência de
Almeida. Mas neste mesmo ambiente hostil temos a presença de Carlina, a filha
comendador, de quem Ricardo se enamora.
Se por um lado o senhor do Campo Alegre é
desumano com seus escravos, o barão do Taquaral não o faz por menos em sua
propriedade. Alfredo, secretário do barão e amigo de Ricardo, alia-se a este
num louvável desideratum: defender as
vítimas da escravidão de seus inexoráveis senhores. Mas, ao tempo que este
plano se formula, o passado de Ricardo vem à tona na pessoa do conselheiro
André de Melo, que parece saber tudo sobre a origem do jovem enjeitado.
É nesse emaranhado de situações e personagens
secundários que a história segue, num maniqueísmo um tanto pueril, permeada
sempre por excessos típicos da escola romântica. O que mais incomoda, contudo,
é a gama do autor por tornar tudo colorido nos capítulos finais, usando de
reviravoltas inverossímeis e pouco inteligentes.
O romance de Vicente Felix de Castro é um ótimo passatempo
para quem, como eu, aprecia a literatura oitocentista. Além do inquestionável
mérito de ser uma obra abolicionista que entretinha relações com leitores
comuns do povo, o livro transparece a dedicação e o empenho de um grande
entusiasta do fazer literário.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
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ResponderExcluirBom dia! Desculpe a demora. Vou lhe mandar por e-mail.
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