Desde que li
Fantasias, fiquei bastante
interessado na obra do paraense Alfredo Bastos. Seus contos, sutis e elegantes,
causaram-me uma boa impressão. Além dessa obra, porém, a única publicação dele
a que tive acesso foi este romance O
Matricida, publicado em folhetins da Gazeta
da Tarde entre 8 de novembro de 1880 e 14 de março de 1881. Saiu em formato
de livro somente em 2022, pela Editora Oitocentista.
Aqui, devo
confessar, a impressão já não foi tão positiva. O livro não chega a ser ruim,
mas o enredo, o ritmo e principalmente os personagens não caíram no meu gosto. O Matricida se aproxima mais do folhetim
francês, e dificilmente percebemos nele marcas dos nossos costumes. Essa capa
de estrangeirismo possivelmente foi uma escolha proposital, a fim de atender ao
gosto da época.
O livro é
praticamente sobre a perversão e vingança de uma mulher. Alice é uma jovem
simples que vive unicamente na companhia de sua mãe. Seduzida por Antão, acaba
fugindo com ele, acreditando numa promessa de casamento. Ao perceber que fora
enganada e abandonada, decide voltar para sua antiga casa, mas logo descobre
que sua velha mãe morrera de apoplexia.
Desolada e
com a honra perdida, Alice decide assumir uma nova identidade. Aproveitando-se
de seus conhecimentos musicais, torna-se Julieta Alloni, professora de piano;
mas, quando a farsa se descobre, decide partir para a Europa, onde descobre que
está grávida de Antão.
Após dar à
luz um menino, faz acordo com uma criada, recomendando-lhe que entregue a
criança a uma família de agricultores. Pouco depois, Alice é descoberta por um
empresário teatral, que promete torná-la uma cantora famosa. Daí, ela decide
mudar de identidade mais uma vez, passando a ser Elisa Alcoy, uma cantora
cubana que, em poucos anos, torna-se uma sensação mundial.
Após essa
mudança de vida, Elisa procura Gastão, seu filho, passando-se por sua tia. Por
conta de sua agenda com muitas viagens, a cantora matricula o “sobrinho” num colégio
interno, partindo logo em seguida para sua turnê pelo Rio de Janeiro, onde
reencontra Antão, que não a reconhece.
O antigo
sedutor tenta se reaproximar de Alice/Elisa, ignorando completamente sua
verdadeira identidade. A partir daí, a cantora começa a alimentar seus desejos
de vingança, o que só será possível anos mais tarde, quando o próprio Gastão,
já homem feito, poderá auxiliá-la.
Como visto,
a trama realmente apresenta um formato bem folhetinesco, mas a galeria de
personagens chega a ser tão desprezível, que o romance me parecia intragável em
alguns momentos. Antão é um sedutor miserável e egoísta. Alice deixa-se
corromper pela fatalidade e torna-se uma mulher fria, vingativa e vaidosa.
Finalmente, Gastão desenvolve um péssimo caráter, sendo capaz de cometer os
atos mais infames.
Há um núcleo
que prometia melhorar a situação do livro: o do mordomo norte-americano James
Burtley. Antão o contrata para administração do seu palacete, ignorando que Burtley
possui família. A sogra e a filha vivem numa casa alugada pelo mordomo, que as
visita sempre que possível. Mary, a filha de Burtley, acaba tornando-se
interesse amoroso de Gastão. Infelizmente não aprovei o desenvolvimento e
desdobramentos feitos pelo autor para este núcleo.
O Matricida é pois
destes livros onde a maldade está sempre em evidência, podendo por isso
desagradar leitores como eu. Acho que tal fator acaba sendo mais prejudicial numa
obra de entretenimento, que não busca investigar ou refletir as mazelas descritas.
Repito que não é um livro de todo ruim, mas certamente está muito longe de ser
agradável.
Avaliação: ★★
Daniel Coutinho
***
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